

Irã anuncia mais negociações nucleares com EUA após reunião em Roma
Estados Unidos e Irã concluíram, neste sábado (19), em Roma, a segunda rodada de conversações sobre o programa nuclear de Teerã e concordaram, segundo o Ministério das Relações Exteriores iraniano, com uma nova reunião na próxima semana em Omã.
Os dois países, que não mantêm relações diplomáticas desde a Revolução Islâmica de 1979, já haviam considerado "construtiva" a primeira rodada de conversações, na semana passada, em Mascate, capital de Omã.
"Foi uma boa reunião e posso dizer que as negociações estão avançando. Desta vez, conseguimos chegar a um entendimento melhor sobre uma série de princípios e objetivos", declarou o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, ao canal de televisão estatal de seu país.
Araqchi liderou a delegação iraniana em Roma, enquanto Steve Witkoff, o emissário americano para o Oriente Médio, coordenou a delegação dos Estados Unidos.
"O ambiente das conversações foi construtivo", declarou um enviado especial da televisão estatal. A agência Tasnim também relatou o "ambiente construtivo" das negociações.
As negociações aconteceram de maneira "indireta" na residência do embaixador de Omã, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmail Baghai.
"As duas partes concordaram em continuar as discussões indiretas nos próximos dias a nível técnico e, depois, prosseguir com a negociação no próximo sábado", informou o porta-voz na rede social X.
Fontes diplomáticas iranianas afirmaram que a terceira rodada de conversas acontecerá em Omã.
Em Roma, o encontro durou quatro horas e abordou apenas o programa nuclear iraniano, indicou Araqchi à agência Tasnim.
As negociações entre Teerã e Washington foram retomadas após ameaças do presidente americano, Donald Trump, de iniciar ações militares contra o Irã caso um acordo sobre seu programa nuclear não seja alcançado.
Em 2018, durante seu primeiro mandato, Trump retirou Washington do acordo multilateral que estava em vigor para restringir o desenvolvimento nuclear da República Islâmica em troca da suspensão das sanções.
- "Salas separadas" -
Em Roma, as duas delegações ficaram em salas separadas e o ministro das Relações Exteriores de Omã transmitiu "as mensagens das partes", explicou o chanceler iraniano.
Desde seu retorno à Casa Branca, em janeiro, o empresário republicano retomou a política de "pressão máxima" contra o Irã, endurecendo as sanções econômicas e ameaçando bombardear a República Islâmica.
Na quinta-feira, Trump disse não ter pressa para recorrer à via militar. "Eu acredito que o Irã quer conversar", afirmou.
Em uma visita a Moscou, Araqchi declarou na sexta-feira que tinha "sérias dúvidas" sobre as intenções e motivos da parte americana.
Os países ocidentais e Israel, grande inimigo do Irã, suspeitam que o objetivo do programa nuclear é desenvolver armamento atômico. Teerã rejeita as acusações e defende seu direito ao desenvolvimento nuclear com fins civis, como a geração de energia.
O organismo responsável por verificar o caráter pacífico do programa é a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), cujo diretor-geral, Rafael Grossi, visitou Teerã esta semana.
Antes da viagem, o diplomata argentino Rafael Grossi afirmou em uma entrevista ao jornal francês Le Monde que o Irã "não está longe" de conseguir a arma nuclear.
"Estamos em uma fase crucial destas importantes negociações. Sabemos que temos pouco tempo", declarou Grossi em Teerã.
- Linhas vermelhas do Irã -
Desde a saída dos Estados Unidos do acordo de 2015, o Irã se distancia do compromisso de não enriquecer urânio acima de 3,67% fixado por este pacto, que também foi assinado por Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia.
Segundo o relatório mais recente da AIEA, o país dispõe de urânio enriquecido a 60%, aproximando-se dos 90% necessários para fabricar uma arma nuclear.
O Irã quer limitar as negociações ao programa nuclear e às sanções. Neste aspecto, o país descarta paralisar toda sua atividade nuclear, uma "linha vermelha" para Teerã.
Araqchi alertou os Estados Unidos, na sexta-feira, contra "demandas irracionais e não realistas", depois que Witkoff pediu no início da semana o desmantelamento total do programa.
A Guarda Revolucionária, o exército ideológico da República Islâmica, descartou qualquer debate sobre as capacidades militares e de defesa do país, que tem um programa balístico que preocupa o Ocidente.
Antes do início das conversações entre Washington e Teerã, Israel reafirmou a determinação em impedir que o Irã desenvolva armas nucleares.
P.Dubois--MJ