

Irã e EUA relatam avanços após negociações em Roma sobre o programa nuclear
Estados Unidos e Irã relataram avanços, neste sábado (19), em Roma, na segunda rodada de conversações sobre o programa nuclear de Teerã e concordaram com um novo ciclo de diálogo na próxima semana em Omã.
As negociações com mediação de Omã duraram quase quatro horas e a televisão estatal iraniana destacou um ambiente "construtivo".
Os dois países, que não mantêm relações diplomáticas desde a Revolução Islâmica de 1979, já haviam considerado "construtiva" a primeira rodada de conversações, na semana passada, em Mascate, capital de Omã.
"Conseguimos um avanço muito bom em nossos diálogos diretos e indiretos", disse um alto funcionário americano sob condição de anonimato.
"Foi uma boa reunião e posso dizer que as negociações estão avançando. Desta vez, conseguimos chegar a um entendimento melhor sobre uma série de princípios e objetivos", declarou o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, ao canal de televisão estatal de seu país.
Araqchi liderou a delegação iraniana em Roma, enquanto Steve Witkoff, o emissário americano para o Oriente Médio, coordenou a delegação dos Estados Unidos.
"O ambiente das conversações foi construtivo", declarou um enviado especial da televisão estatal. A agência Tasnim também relatou o "ambiente construtivo" das negociações.
As negociações aconteceram de maneira "indireta" na residência do embaixador de Omã, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmail Baghai.
"As duas partes concordaram em continuar as discussões indiretas nos próximos dias a nível técnico e, depois, prosseguir com a negociação no próximo sábado", 26 de abril, informou o porta-voz na rede social X.
O alto funcionário americano confirmou novas conversas na próxima semana, sem especificar o dia ou o lugar. Omã indicou que este terceiro ciclo de diálogo ocorrerá em sua capital, Mascate.
Em Roma, o encontro abordou apenas o programa nuclear iraniano, indicou Araqchi à agência Tasnim.
As negociações entre Teerã e Washington foram retomadas após ameaças do presidente americano, Donald Trump, de iniciar ações militares contra o Irã caso um acordo sobre seu programa nuclear não seja alcançado.
Em 2018, durante seu primeiro mandato, Trump retirou Washington do acordo multilateral que estava em vigor para restringir o desenvolvimento nuclear da República Islâmica em troca da suspensão das sanções.
- "Salas separadas" -
O Ministério das Relações Exteriores de Omã revelou que a próxima fase das discussões buscará "um acordo justo, duradouro e vinculante, que garanta um Irã totalmente livre de armas nucleares e das sanções, e que mantenha sua capacidade de desenvolver energia nuclear pacífica".
Em Roma, as duas delegações ficaram em salas separadas e o ministro das Relações Exteriores de Omã transmitiu "as mensagens das partes", explicou o chanceler iraniano.
Desde seu retorno à Casa Branca, em janeiro, o empresário republicano retomou a política de "pressão máxima" contra o Irã, endurecendo as sanções econômicas e ameaçando bombardear a República Islâmica.
Na quinta-feira, Trump disse não ter pressa para recorrer à opção militar. "Eu acredito que o Irã quer conversar", afirmou.
Em uma visita a Moscou, Araqchi declarou na sexta-feira que tinha "sérias dúvidas" sobre as intenções e os motivos da parte americana.
As potências ocidentais e Israel, grande inimigo do Irã, suspeitam que o objetivo do programa nuclear é desenvolver armamento atômico. Teerã rejeita as acusações e defende seu direito ao desenvolvimento nuclear com fins civis, como a geração de energia.
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), agência da ONU responsável por comprovar o caráter pacífico do programa nuclear iraniano, visitou Teerã esta semana.
Antes da viagem, o diplomata argentino Rafael Grossi afirmou em uma entrevista ao jornal francês Le Monde que o Irã "não está longe" de conseguir a arma nuclear.
"Estamos em uma fase crucial destas importantes negociações. Sabemos que temos pouco tempo", declarou Grossi em Teerã.
- Linhas vermelhas do Irã -
Segundo o relatório mais recente da AIEA, o país dispõe de urânio enriquecido a 60%, aproximando-se dos 90% necessários para fabricar uma arma nuclear.
O Irã quer limitar as negociações ao programa nuclear e às sanções. Neste aspecto, o país descarta paralisar toda sua atividade nuclear, uma "linha vermelha" para Teerã.
Araqchi alertou os Estados Unidos, na sexta-feira, contra "demandas irracionais e não realistas", depois que Witkoff pediu no início da semana o desmantelamento total do programa.
A agência oficial de notícias Irna também colocou como "linha vermelha" a influência regional do Irã, que apoia movimentos hostis a Israel, como o palestino Hamas, o libanês Hezbollah e os rebeldes huthis do Iêmen.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reiterou neste sábado sua determinação em "impedir que o Irã obtenha armas nucleares". "Não recuarei nem um milímetro", garantiu.
L.Bisset--MJ